terça-feira, 9 de janeiro de 2024

IGREJA

 

Teoria de género é “perigosa” porque “cancela diferenças”, diz Papa 

Isabella H. de Carvalho publicada em 08/01/24

No seu discurso ao corpo diplomático da Santa Sé, o Papa advertiu a comunidade internacional para não permitir que a “colonização ideológica” divida os Estados.

As colonizações ideológicas revelam-se prejudiciais e criam divisões entre os Estados, em vez de promoverem a paz”, disse o Papa Francisco em 8 de Janeiro de 2024, no seu longo discurso anual ao corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé. Apelando ao respeito pelos direitos humanos e à defesa da dignidade da vida em todas as fases, o Pontífice disse que a comunidade internacional deve ter cuidado com a divisão dos Estados em linhas ideológicas, em detrimento da paz, da segurança e da cooperação.

Ao falar sobre o desenvolvimento dos direitos humanos, quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos celebrou o seu 75º aniversário em 2023, o Papa Francisco lamentou que nas últimas décadas tenha havido “tentativas” de “introduzir novos direitos” que nem sempre são geralmente acordados. Explicou que isto “levou a casos de colonização ideológica, nos quais a teoria do género desempenha um papel central”.

“Este último é extremamente perigoso porque anula diferenças na sua pretensão de tornar todos iguais”, acrescentou. 

Colonização ideológica em detrimento da paz

O Papa Francisco tem frequentemente definido a “teoria de género” como um exemplo de “colonização ideológica”, o que significa que ele toma o conceito de colonização, como uma imposição de uma visão de mundo externa que destrói uma cultura ou um povo, para explicar como ele acredita que certas “ideologias” são hoje imposta à sociedade.

Ele costuma usá-lo em referência à ética familiar, casamento e questões de gênero. E surge frequentemente em relação às regiões mais pobres do globo e à influência exercida pelos países ricos na oferta ou recusa de apoio financeiro, dependendo se um país se curva à pressão sobre estas questões.

No seu discurso ao corpo diplomático, ele explicou de facto como a colonização ideológica afecta a cooperação entre os Estados, uma vez que estes se dividem de acordo com estas visões do mundo.

“As organizações criadas para promover a segurança, a paz e a cooperação já não são capazes de unir todos os seus membros em torno de uma mesa”, avaliou o Papa, reconhecendo também que as estruturas da diplomacia multilateral enfraqueceram desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

“Existe o risco de uma 'monadologia' e de divisão em 'clubes' que só admitem Estados considerados ideologicamente compatíveis. Mesmo as agências dedicadas ao bem comum e às questões técnicas, que até agora se revelaram eficazes, correm o risco de paralisia devido à polarização ideológica e à exploração por parte de Estados individuais.” 

“O diálogo, por outro lado, deve ser a alma da comunidade internacional”, enfatizou.

Pare com a maternidade substituta

Ao defender os direitos humanos no seu discurso, o Papa também sublinhou a necessidade de defender a vida em todas as suas fases, apelando à comunidade internacional para proibir a “chamada maternidade de aluguer” em todo o mundo.

“O caminho para a paz exige o respeito pela vida, por cada vida humana, a começar pela vida do nascituro no ventre da mãe, que não pode ser suprimida ou transformada em objeto de tráfico”, afirmou.

“Neste sentido, considero deplorável a prática da chamada maternidade de substituição, que representa uma grave violação da dignidade da mulher e da criança, baseada na exploração de situações de necessidades materiais da mãe”, continuou. “Um filho é sempre um presente e nunca a base de um contrato comercial. Consequentemente, expresso a minha esperança num esforço da comunidade internacional para proibir esta prática universalmente.”

O Papa também lamentou a “propagação contínua da cultura da morte”, especialmente no Ocidente. “Em nome de uma falsa compaixão [a cultura da morte] descarta as crianças, os idosos e os doentes.” 


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