sexta-feira, 29 de agosto de 2025

ATUALIDADE

 Gaza: “Não pode haver futuro baseado no deslocamento dos palestinos ou na vingança”


Diante da iminente ofensiva do exército israelense contra a cidade de Gaza, os Patriarcados greco-ortodoxo e latino de Jerusalém lançaram um apelo solene em uma declaração conjunta publicada em 26 de agosto: “Não pode haver futuro baseado no aprisionamento, no deslocamento dos palestinos ou na vingança.” Os religiosos católicos e ortodoxos afirmam que permanecerão em Gaza.

Na declaração conjunta, os Patriarcados fizeram um novo apelo à paz e pediram o fim dos combates na Faixa de Gaza, no momento em que o enclave palestino se prepara para sofrer uma ofensiva israelense sem precedentes.

As duas Igrejas denunciaram a situação dramática vivida por centenas de milhares de civis ameaçados de evacuação forçada para o sul do enclave. “Parece que a declaração do governo israelense segundo a qual ‘as portas do inferno se abrirão’ está tomando uma virada trágica”, alertaram, recordando que suas paróquias de São Porfírio e da Sagrada Família atualmente servem de refúgio para centenas de civis, entre eles idosos, mulheres, crianças e pessoas com deficiência.

“No momento em que publicamos esta declaração, ordens de evacuação já foram emitidas para vários bairros da cidade de Gaza”, escreveram ainda os líderes das duas Igrejas. Inspirando-se nas palavras do papa Leão XIV, que pediu respeito aos povos e condenou o exílio forçado, os Patriarcados exortaram a comunidade internacional a agir: “Nada justifica o deslocamento deliberado e forçado de civis. É hora de pôr fim a essa espiral de violência, de acabar com a guerra e dar prioridade ao bem comum.”

Uma situação humanitária dramática

No fim de agosto, a Integrated Food Security Phase Classification (IPC) declarou oficialmente estado de fome na cidade de Gaza, ameaça que pode se estender a Deir al-Balah e Khan Younis até o fim de setembro. Mais de um quarto da população — cerca de 500 mil pessoas — enfrenta insegurança alimentar catastrófica. A situação se torna ainda mais grave diante da escalada sem precedentes das operações militares.

No dia 25 de agosto, dois ataques aéreos atingiram o hospital Nasser, em Khan Younis, causando a morte de pelo menos 20 pessoas, entre elas cinco jornalistas internacionais.

As forças israelenses intensificaram a ofensiva em torno da Cidade de Gaza, com ataques aéreos e disparos de artilharia direcionados aos bairros orientais e do norte, como Zeitoun, Shejaia, Sabra e Jabalia. Israel mobilizou cerca de 60 mil reservistas e prorrogou o serviço de 20 mil soldados, preparando uma operação terrestre em Gaza City, prevista para meados de setembro. Estariam em estudo ordens de evacuação para quase um milhão de civis, lançando incerteza sobre o destino de milhares de pessoas — incluindo os poucos cristãos que permaneceram no enclave desde o início do conflito.

A paróquia católica da Sagrada Família, já atingida diversas vezes por disparos e bombardeios israelenses, abriga cerca de 500 pessoas em condições extremamente precárias. As operações em curso do Exército israelense fazem pesar sobre essa pequena comunidade o risco de extinção.

“Entre aqueles que buscaram refúgio dentro dos muros dessas paróquias, muitos estão debilitados e desnutridos devido às dificuldades dos últimos meses. Deixar a cidade de Gaza (…) equivaleria a uma condenação à morte”, alertaram os Patriarcados em sua declaração.

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